© Penélope e o tigre Ulisses #6
as guerreiras decidiram criar tigres para proteger a aldeia. aos poucos tornei-me família e, um dia, trouxeram-me um tigre para eu criar, para minha protecção. aprendi a caçar, para o alimentar, enquanto não o começasse a fazer sozinho. de qualquer forma era sempre aconselhável irmos dormir, deixando o nosso tigre de barriga cheia. treinavam os tigres a reconhecer o cheiro dos machos humanos e a atacar se nós não lhes misturássemos o cheiro da nossa mão com a do homem com quem estávamos. quando as guerreiras consideravam que estávamos aptas a cuidar do nosso tigre sozinhas, faziam um ritual de baptismo e assim passei a ser acompanhada por Ulisses para todo o lado fora da aldeia. as idas à cidade tornaram-se um desafio. uma guerreira tinha de cuidar do meu tigre. Ulisses tolerava bem ficar sem mim, desde que ficasse com a fêmea Nala. eram livres de nos deixar, se a sua natureza os chamasse para a selva. mas por enquanto só tinha um ano de idade e tinha-me adoptado como companheira de brincadeiras. eu sabia que era importante estar em boa forma física para o educar, pelo que pedi para ser treinada como guerreira. o que, além da gratidão, engrandeceu o respeito que me tinham e eu só conseguia sentir-me honrada por pertencer aquela tribo de mulheres tão extraordinárias. os homens agora tinham orgulho e habituaram-se à nova vida. um dia, a caça tinha sido tão boa que cozinharam um banquete e convidaram as esposas e as crianças para se reunirem com eles. a enfermeira, filha da aldeia, ensinava-me a pronunciar o dialecto, quando conseguíamos estar juntas ao serão. nessa noite houve festa na aldeia dos homens, mas as guerreiras, eu incluída, e os tigres ficaram de guarda na aldeia das mulheres. reunimo-nos todas no centro, à volta do fogo, e muito se divertiram ensinando-me o dialecto. éramos felizes e sabíamos.
(continua)