© Penélope e o tigre Ulisses #2
eu cheguei com o nascer do sol, atraída pela energia feminina que protegia a aldeia num casulo de amor-próprio e confiança. trouxe sementes e árvores de fruto, mantimentos, água potável, alimentos enlatados, carnes fumadas, algumas iguarias e livros, cadernos, lápis para escrever, livros para colorir, lápis de cores. o acordo para a minha chegada naquele dia era a escola estar construída, pois trazia comigo painéis solares, mesas e cadeiras, um quadro de ardósia e muito giz. tinha lhes escrito que pretendia viver na aldeia, pelo que a escola precisava de ter paredes e telhado. para nenhuma intempérie nos impedir de ter aulas. tudo foi financiado pela UNESCO e nenhuma das minhas condições foi negada. o que significava que eu tinha um salário, o que me permitiria comprar mais bens para a aldeia e poupar um fundo de maneio. a equipa que tornou tudo possível, ofereceu-me um telefone ainda operacional, do tempo da guerra do Vietname. a cidade mais próxima estava a dez horas de distância a pé. certifiquei-me se tinha biblioteca e como funcionava a inscrição. deixei a escola inscrita, era mais simples. com o tempo, cada aluna poderia ter o seu próprio cartão de leitura. a empresa de painéis solares enviou duas equipas para a instalação simultânea nos dois lados do telhado e para electrificar a escola. as mulheres tinham construído um edifício amplo, onde quem quisesse ler ou estudar tinha um lugar confortável para o fazer. a última coisa a ser descarregada foi a arca de madeira com os meus pertences. não fazia a mínima ideia onde ia viver.
(continua)