© os Scott e a tribo #1
por mais que Penny quisesse dormir com a sogra e os filhos, tinha de ficar perto de Ulisses para ele não cirandar pela aldeia. para tornar a noite útil, entrou em transe para conversar com a mais velha de todos. tinha saudades da serenidade da anciã. ela apareceu mas disse-lhe que só podia ficar se ela quisesse aprender algo novo, que ainda estavam a cicatrizar o corpo emocional do pai de Phil. Penny pediu desculpa, beijou as mãos da mãe e disse, vou ter com Phil. o maridão estava no meio de uma cirurgia, sentiu-a entrar mas pensou que eram as saudades a falar mais alto. Penny ficou por uns instantes a observar os curadores do outro lado do véu a trabalharem em conjunto com a equipa médica. antes de voltar ao seu quarto, segredou ao seu amor: descansa, não faças o turno da noite. amanhã quero-te inteiro. Ulisses esperava-a com a cabeçorra apoiada na cama. por mais que adorasse a companhia do seu menino gato, ele tinha de se habituar a dormir na casota, sem excepções. acordaram com a alvorada. cada um na sua cama. o tigre deu um bocejo enorme, como quem diz: vou à caça. olhou para ela e Penny bocejou de volta: vai à vontade. pouco depois começaram a ouvir-se as vozes das crianças. a sogra e os netos vieram tomar o pequeno-almoço com a mãe. hoje era pão e manteiga caseiros, chá de hortelã e limão bem fresco. falaste com Phil, perguntou a avó. fui ter com ele quando me deitei, estava a operar. ao entardecer ligou para dizer que só voltam hoje e estava tão feliz por ter passado o dia no bloco operatório. a sogra riu: ser cirurgião é o que ele mais adora. Penny sentiu um murro no estômago quando lhe ocorreu que, talvez Phil não se sentisse realizado com a perspectiva de viver na aldeia para sempre. ela agora era a xamã, não podia partir sem uma substituta escolhida pelas anciãs, e ele era um excelente cirurgião com um potencial tremendo. a sogra não viu o efeito que as suas palavras tiveram na nora, pois Aurora descobriu o quarto novo e chamou-a entusiasmada. a avó estava deslumbrada com o quarto das crianças. as boas-vindas pintadas na sua porta eram magníficas, mas este fundo do mar era mágico. entretanto, Ulisses voltou da sua caçada. a barriga bamboleava de tão cheia e ele chegou sonolento, mas trouxe uma lebre para os Scott comerem. Penny agradeceu-lhe a cortesia, certificou-se que a carne estava quente e bocejou em agradecimento. o seu menino gato deitou-se à fresca na casota e começou a ressonar baixinho. a humana foi para a cozinha tratar de tornar a lebre comestível para o jantar. a avó estava a contar uma história inspirada naquele fundo do mar deslumbrante, que tinha corais, cardumes de peixes pequeninos e multicolores, dragões marinhos, estava repleto de pormenores que pareciam reais.
(continua)